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Channel: Comentários sobre: Revelação de 1880
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Por: Josimar Dominicini

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Tal como Acima o Antônio instruiu, e também, o grande historiador medievalista Marc Bloch disse “Nunca um fenômeno histórico se explica plenamente fora do estudo do seu momento”. Isto posto, entender o contexto político que influenciou a Declaração Oficial 1, ou comumente conhecida como “O Manifesto”, e o que isso diretamente influenciou na posição doutrinaria da igreja é uma tarefa prazerosa para aqueles que tem o espírito investigativo tão presente no ofício de historiador. No entanto, não é um trabalho fácil, pois ao lidarmos com os documentos históricos e posteriormente questioná-los, devemos tomar o devido cuidado, pois como Bloch diz “O que mais interessa é aquilo que o texto dá a entender sem a intenção de assim fazê-lo”.

O texto abaixo foi retirado do Curso de Religião 324-325, Doutrina e Convênios Manual do Aluno, p. 361-363, preparado pelo Sistema Educacional da Igreja.

O contexto político do Manifesto:

A primeira legislação contra a prática do casamento plural foi aprovada dez anos depois que a doutrina havia sido oficialmente anunciada, em 29 de agosto de 1852, pelo Elder Orson Pratt (ver o Panorama Histórico de D&C 132). Stephen Harding, governador do Território de Utah, conseguiu fazer com que Justin R. Morril, do Estado de Vermont, apresentasse um projeto no Congresso. Ele foi transformado em lei em 8 de julho de 1862, pelo Presidente Abraham Lincoln. O Ato Antipoligamia de 1862 “definiu o casamento plural como sendo bigamia e tomou a contratação de tais enlaces punível com uma multa de quinhentos dólares e cinco anos de prisão” (Smith, Essentials in Church History, p. 432). Este projeto foi o primeiro de uma série de legislações antimórmons apresentadas durante os próximos vinte anos, a maioria das quais jamais foram aprovadas (Roberts, Comprehensive Historyofthe Church, vol. 5, pp. 433-441,610-611).

Em 1874, a Igreja decidiu apresentar um caso para julgamento, a fim de testar a validade da lei de 1862. George C. Bates, procurador dos Estados Unidos para Utah, e George Q. Cannon foram os maiores responsáveis por esta idéia. Os líderes da Igreja tinham a firme convicção de que a Suprema Corte consideraria a lei inconstitucional, desde que ela infringia a liberdade de religião prevista pela Constituição. A Primeira Presidência pediu a George Reynolds que se propusesse a ser o caso-teste, e ele forneceu as provas necessárias para condenar a si próprio. No dia 5 de maio de 1879, a Corte Suprema dos Estados Unidos julgou a questão de Reynolds. Eles chegaram à conclusão de que, embora a liberdade de religião fosse protegida pela Primeira Emenda, ela não concedia a qualquer pessoa o direito de cometer atos imorais ou criminosos sancionados por doutrinas religiosas.

Tão logo a constitucionalidade do ato de 1862 foi comprovada pela maior corte jurídica do país, tomaram-se mais severas as perseguições contra os que praticavam o casamento plural. Em março de 1882, o Congresso passou a Lei Edmunds. Ela privava dos direitos de cidadania todos aqueles que adotassem o casamento plural, tomando ilegal possuírem qualquer posição ou cargo público de confiança (Smith, Essentials in Church History, pp. 482-483). Cinco anos depois, em março de 1887, o Congresso aprovou a Lei Edmunds-Tucker. Ela destituía a Igreja de seus direitos de propriedade, dissolvia o Fundo Perpétuo de Imigração, transferia os bens da Igreja ao governo, em benefício das escolas públicas de Utah, e impedia o sufrágio feminino.

Em 24 de setembro de 1890, o Presidente Wilford Woodruff reuniu-se com o Quorum dos Doze Apóstolos e seus dois conselheiros “para tratar de um importante assunto.” No dia vinte e cinco, o Presidente Woodruff registrou: “Cheguei a um ponto da história de minha vida, como presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, em que se toma necessário agir para a salvação temporal da Igreja. O governo dos Estados Unidos tomou uma posição e aprovou leis visando destruir os santos, baseando-se na poligamia, ou ordem patriarcal do casamento; e após orar ao Senhor e sentir-me inspirado, emiti a seguinte proclamação, que é apoiada por meus conselheiros e os doze apóstolos. (Segue-se o Manifesto.)” (Em Clark, Messages of the First Presidency, voI. 3, p. 192.)

Uma conferência geral reuniu-se no dia 4 de outubro de 1890, e no terceiro dia, 6 de outubro, Lorenzo Snow, Presidente do Quorum dos Doze, apresentou o Manifesto à congregação da Igreja, o qual foi unanimemente aceito.

Houve alguns, entretanto, que afirmaram que o Presidente Woodruff cedeu às pressões e que o Senhor não tinha realmente revelado que o casamento plural deveria cessar. O fato de esta declaração não mencionar, especificamente, a revelação do Senhor como sendo a razão para pôr fim à prática da poligamia, pareceu levantar maiores críticas. Um ano depois, numa conferência trimestral realizada em Brigham City, Utah, o Presidente Woodruff deixou bem claro o motivo pelo qual decidira terminar o costume do casamento plural:

“Tive algumas revelações ultimamente muito importantes para mim e lhes direi o que o Senhor me falou. Permitam-me voltar sua mente para o que denominamos Manifesto. O Senhor me disse, por revelação, que há muitos membros da Igreja em Sião que estão profundamente magoados devido ao Manifesto, e também em virtude do testemunho da Presidência da Igreja e dos Apóstolos diante do juiz da Corte Suprema. Desde que recebi aquela revelação, ouvi muitos que se afligem pelo que ela contém, embora não tenha escutado nada de ninguém antes. Bem, o Senhor me mandou fazer uma coisa e eu obedeci ao seu mandamento na conferência em Brigham City, no último domingo, e farei o mesmo aqui hoje. O Senhor me disse que fizesse uma pergunta aos santos dos últimos dias, e também que se eles escutassem o que eu tinha a dizer, e respondessem à pergunta que lhes apresentasse pelo Espírito e poder de Deus, todos responderiam a ela unanimemente e teriam a mesma opinião no tocante ao assunto.

“A pergunta é: Qual é o caminho mais sábio a ser seguido pelos membros da Igreja -continuar tentando praticar o casamento plural, contra as leis da nação e com a oposição de sessenta milhões de pessoas, e com o custo do confisco e perda de todos os templos e a paralisação da realização de ordenanças tanto para os vivos como pelos mortos; o aprisionamento da Primeira Presidência e dos Doze, bem como os chefes de família da Igreja, e o confisco das propriedades particulares das pessoas (o que por si só poria fim à prática); ou, depois de atravessar todos os sofrimentos que passamos devido à aceitação deste princípio, deixar de lado a prática da poligamia, e nos submetermos às leis, e por fazê-lo, deixar os profetas, apóstolos e pais em casa, para que possam instruir o povo e cuidar dos deveres da Igreja, e deixar os templos nas mãos dos santos, para que possam realizar as ordenanças tanto para os vivos como para os mortos?

“O Senhor me mostrou em visão e por revelação exatamente o que sucederia, se não parássemos com essa prática. Se não tivéssemos posto fim a ela, não haveria lugar para o” Irmão Merril, o Irmão Edlefsen, o Irmão Roskelley, ou para o Irmão Leishman ou para qualquer dos homens neste Templo de Logan; pois todas as ordenanças cessariam na terra de Sião. Reinaria a confusão em Israel, e muitos homens cairiam prisioneiros. Essas dificuldades sobreviriam a toda a Igreja, e seríamos forçados a abandonar a prática. Agora, a pergunta é, se a prática da poligamia deve cessar desta maneira ou da forma que o Senhor nos manifestou, deixando os nossos profetas, apóstolos e pais livres, e os templos nas mãos do povo, para que os mortos possam ser redimidos?.

“Vi exatamente o que aconteceria, se uma providência não fosse tomada. Tive essa inspiração comigo por muito tempo, mas quero-lhes dizer isto: eu permitiria que perdêssemos todos os templos, eu teria ido para a prisão e deixaria que qualquer outro homem para lá fosse, se o Deus dos céus não me tivessse mandado fazer o que fiz; e quando chegou a hora de realizar o que ele me ordenou, eu não tinha a menor dúvida a respeito do assunto. Coloquei-me diante do Senhor e escrevi o que ele tinha a transmitir. Depois disso, apresentei sua vontade a meus irmãos – homens fortes como o Irmão George Q. Cannon, o Irmão Joseph F. Smith e os Doze Apóstolos. Seria bem mais fácil desviar um exército armado de sua direção do que desviá-los de fazer o que é certo. Esses homens concordaram comigo. Por que? Porque eles foram movidos pelo Espírito de Deus e pelas revelações de Jesus Cristo a assim proceder.” (Discourses of Wilford Woodruff, pp. 214-216.)

Observações:

Na declaração de Wilford Woodruff “Cheguei a um ponto da história de minha vida, como presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, em que se toma necessário agir para a salvação temporal da Igreja.” Fica evidente nos registros e principalmente nessa declaração qual era a preocupação primitiva de Woodruff: salvação temporal da Igreja. O que quer dizer temporal nesse contexto? A resposta é aquilo que é relativo ao mundo ou às coisas materiais (por oposição a espiritual): os bens temporais. E como podemos ver mais a frente no texto acima, se medidas não fossem tomadas, no que diz respeito a extinção da poligamia, as concequências seriam “Ela [Lei Edmunds-Tucker] destituía a Igreja de seus direitos de propriedade, dissolvia o Fundo Perpétuo de Imigração, transferia os bens da Igreja ao governo, em benefício das escolas públicas de Utah, e impedia o sufrágio feminino.” Essa preocupação de Woodruff ainda é mais potencializada na conferência trimestral realizada em Brigham City, Utah em sua extensa explicação das consequências advindas na não obediência da lei Federal.

Através dessas passagens fica claro no texto que a pressão do governo sobre a Igreja tinha proporções enormes. Uma vez que a Igreja seria destituída de seus bens materiais e seus líderes encarcerados por desacato e descumprimento da lei dos Estados Unidos. Diante disso, nada mais natural do que haver pessoas que questionassem os motivos pelos quais o Manifesto foi apresentado, pois o mesmo não mencionava em suas linhas o caráter divino do advento do mesmo por revelação como pode ser constatado no texto acima exposto. Ao que tudo indica, esses questionamentos incomodaram a liderança da Igreja, que por sua vez precisaram oferecer aos membros uma explicação mais plausível das causas da apresentação do Manifesto.

Um ano depois, na já referida conferência trimestral realizada em Brigham City, Utah, Woodruff apresenta um novo discurso sobre as origens do Manifesto. Dessa vez a ênfase não está mais direcionada à saúde ou salvação temporal da Igreja (apesar de as mencionar em um sentido de dar um peso maior à necessidade do Manifesto), agora Woodruff se preocupa em fornecer subsídios aos membros da Igreja que corroboram com uma declaração que teve providência divina, e não somente divina inspiração como foi dito no princípio; em outras palavras, agora Woodruff a apresenta por “Visão e revelação”.

O que fica evidente é a clara mudança na natureza da concepção do manifesto. Em princípio, o Manifesto é envolto por causas seculares e por fim lhes é imputado um caráter muito mais espiritual, onde visões e revelações compõe todo o panorama de seu recebimento, o que o fez ser legitimado como revelação e não apenas como um mero comunicado.

No que diz respeito a conferência geral do dia 04 de outubro de 1890, na qual é nos dito pelos registros históricos que o Manifesto apresentado foi aceito de forma unânime pela Igreja, tal informação não procede e mais detalhes sobre esse fato é encontrado no artigo escrito pelo Antônio: Feliz aniversário Manifesto.


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